Um relatório da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro apontou indícios da existência de um esquema de corrupção envolvendo supostamente policiais e traficantes das favelas de Antares e do Rola, em Santa Cruz, na zona oeste da capital fluminense.
O documento traz transcrições de diversas interceptações telefônicas autorizadas pela Justiça feitas entre julho e novembro do ano passado. Elas integram um inquérito da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais) que apurou o tráfico na região e sua relação com as comunidades de Manguinhos, do Juramento e do Complexo do Alemão, na zona norte.
Nas gravações, há várias conversas entre traficantes em que eles mencionam que comparsas foram presos e policiais pedem propina para soltá-los. Nas transcrições os bandidos falam de pelo menos dez supostas extorsões que teriam ocorrido no período com valores variando entre R$ 1 mil e R$ 80 mil.
Em apenas uma das supostas extorsões, suspeitos foram identificados. Três PMs do batalhão de Santa Cruz (27º BPM) foram denunciados e acabaram presos em dezembro.
De acordo com o Ministério Público, os policiais foram acusados de sequestrar três criminosos da comunidade do Rola e exigir R$ 20 mil para soltá-los. Os bandidos ficaram em poder dos PMs durante dez horas.
No final, um deles acabou liberado mediante o pagamento de R$ 10 mil. Os outros dois, entre eles um menor de idade, foram levados para a delegacia do bairro (36ª DP). Na semana passada, a Justiça revogou a prisão dos três sob alegação de que eles não ofereciam risco a uma das testemunhas do processo que ainda não foi ouvida.
Propina de R$ 20 mil baixou para R$ 7 mil
A primeira interceptação que indica suposto pedido de propina ocorreu no dia 7 de julho. Na ocasião, em uma conversa gravada, os traficantes comentam que PMs em uma Blazer detiveram os bandidos conhecidos pelos apelidos de Xandoca e Gula e estavam exigindo R$ 80 mil para liberá-los.
O relatório menciona também uma conversa gravada no dia 8 de novembro em que os criminosos falam sobre a prisão de um traficante conhecido como Rafa ou Gordão e que policiais pediram R$ 20 mil.
No documento, há ainda uma transcrição de uma conversa do dia 16 do mesmo mês em que os traficantes citam que o comparsa conhecido como Nandinho foi preso e que, por sua liberdade, teriam que pagar R$ 20 mil a policiais não identificados. A escuta captou ainda diálogos entre os bandidos falando que não teriam a quantia exigida e que acabaram conseguindo baixar o valor da suposta propina para R$ 7 mil.
No dia seguinte, uma outra gravação mostrou bandidos falando sobre a prisão de um criminoso conhecido como Orelha e que supostos policiais teriam cobrado R$ 10 mil por sua liberação.
O iG teve acesso ainda a um trecho de uma conversa gravada no dia 3 de novembro em que os criminosos falam sobre a prisão do traficante Beiço e que o mesmo vai pagaria R$ 1,5 mil de "arrego" (propina) sendo R$ 500 para cada equipe de plantão. Ele buscaria o dinheiro na boca de fumo onde vendia papelotes de cocaína a R$ 10. Em uma conversa gravada no dia seguinte, há menção sobre a prisão de um bandido chamado de Moisés e sua libertação custaria R$ 2 mil.
Fonte: IG
Nenhum comentário:
Postar um comentário