A morte do líder norte-coreano Kim Jong-Il e as incertezas sobre a sua sucessão aumentaram a preocupação dos vizinhos asiáticos com a capacidade nuclear do regime de Pyongyang.
Direta ou indiretamente – através de um ataque ou de exportação de sua tecnologia nuclear para outras nações –, a Coreia do Norte e suas ambições nucleares se tornam mais preocupantes na medida em que a sucessão do regime permanece incerta.
Muitos temem sua eventual disposição em fazer uso de armas nucleares para mostrar que está no controle.
No dia em que a morte de Kim Jong-Il foi anunciada, a Coreia do Norte realizou testes com mísseis de curto alcance, segundo autoridades da Coreia do Sul, mantendo em alerta a nação vizinha.
Tecnicamente os dois países ainda estão em guerra, já que nunca houve acordo de paz depois que cessaram os confrontos na Guerra da Coreia (1950-1953). Cerca de 28 mil soldados americanos estão estacionados na fronteira entre os dois países.
A Coreia do Norte realizou testes com armas nucleares em 2006 e 2009, mas especialistas não descartam a possibilidade de um novo teste para manter as potências ocidentais afastadas e receosas.
Algumas estimativas indicam que o arsenal norte-coreano inclua entre seis e 12 armas nucleares e entre 600 e 800 mísseis balísticos, inclusive um ou dois de longo alcance, capaz de viajar mais de 6 mil quilômetros.
Exportação de conhecimento
Além da ameaça direta, outra que vem sendo sublinhada por analistas é a capacidade do regime de Pyongyang de exportar seu conhecimento no campo nuclear.
Para o ex-secretário assistente do Departamento de Estado dos EUA, P.J. Crowley, a exportação de tecnologia nuclear é uma possibilidade atraente para um país quase isolado por um embargo econômico.
"A Coreia do Norte pode ser contida, mas não ignorada, porque o conhecimento nuclear é sua principal riqueza, que deseja vender para diversos compradores, do Paquistão ao Irã e à Líbia", disse Crowley em um artigo para a BBC.
Analistas observam que o regime norte-coreano ajudou a construir um reator de plutônio para armas atômicas na Síria, que terminou sendo bombardeado em 2007 pela aviação israelense.
De acordo com o centro de estudos britânico International Institute for Strategic Studies, Pyongyang também enviou urânio gaseificado à Líbia e é acusado de prover cooperação técnica para o regime iraniano.
Tensões regionais
Por isso o interesse – e a cautela – dos vizinhos da Coreia do Norte no manuseio de seu conhecimento e poderio nuclear durante a transição do regime.
Segundo a agência sul-coreana Yonhap, o governo de Seul expressou solidariedade com o povo norte-coreano após a morte do seu líder, mas permanece "cauteloso" em relação à capacidade de Kim Jong-un de se manter no poder.
O ministro sul-coreano da Defesa, Kim Kwan-jin, disse nesta terça-feira que esta é uma questão "imprevisível" e que não pode ser avaliada "de forma precipitada".
Autoridades japonesas também expressaram condolências pela morte de Kim Jong-Il – mas só depois de uma reunião de emergência do gabinete japonês em Tóquio.
Em 2009, a Coreia do Norte lançou mísseis que, segundo os japoneses, cruzou os céus do Japão.
Com várias cidades do país ao alcance do arsenal norte-coreano, o governo japonês expressou que acompanhará de perto "os riscos relacionados à sucessão".
O maior aliado da Coreia do Norte é a China, cujo presidente, Hu Jintao, compareceu nesta terça-feira à Embaixada norte-coreana em Pequim para prestar sua homenagem a Kim Jong-Il. Para analistas chineses, Pequim também acompanhará de perto a transição no vizinho da península coreana.
O maior interesse é manter a estabilidade na região, já que uma implosão do regime norte-coreano tenderia a enviar uma onda de refugiados para os países da região, em especial para a China, que se converteu em uma espécie de locomotiva da economia mundial.
Fonte: BBC Brasil
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