sexta-feira, 1 de julho de 2011

ESTUDANTES ENFRENTAM A POLÍCIA NO CHILE

Ao menos 80 mil pessoas saíram nesta quinta-feira às ruas de Santiago para exigir a melhoria do ensino público no Chile, num dos maiores protestos dos últimos 20 anos, que culminou com 38 detidos e violentos choques com a polícia.

Os manifestantes se reuniram na Plaza Italia e seguiram até o Ministério da Educação e o Palácio Presidencial de La Moneda, em um movimento que começou de maneira pacífica mas que nas últimas horas descambou em atos de vandalismo e enfrentamentos com a polícia.

Os distúrbios deixaram 38 detidos e 20 policiais feridos, "com contusões e cortes no corpo", explicou à imprensa o intendente de Santiago, Fernando Echeverría, que estimou a presença de 80 mil pessoas no protesto.

"Foi algo histórico, desde o retorno da democracia não se via algo assim", disse Giorgio Jackson, um dos líderes estudantis.

"Esperamos que as autoridades estejam à altura do desafio que representa, hoje em dia, recuperar um sistema público de educação. Até agora não vimos nenhum medida transformadora nesse sistema e, portanto, continuaremos pressionando", disse Jackson.

O presidente Sebastián Piñera se pronunciou sobre o assunto afirmando que a educação chilena não será melhorada com marchas e assegurou que anunciará uma proposta que cobrirá vários pontos pedidos pelos estudantes.

"As manifestações são legítimas, mas a educação só será melhorada com trabalho, com estudo, com responsabilidade e com compromisso", disse Piñera.

Houve saque a uma loja de telefonia celular e uma tentativa de ocupar a embaixada do Brasil em Santiago, que fica em frente ao Ministério da Educação, no centro da cidade e ponto nevrálgico da marcha, onde um grupo de manifestantes agrediu a polícia com paus e pedras, tentando atravessar as barreiras de proteção.

Os policiais revidaram lançando bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água contra os manifestantes.

Apesar dos problemas, a manifestação conseguiu uma grande representatividade. Participaram estudantes e professores de colégios e universidades públicas e privadas, que uniram sua voz para exigir um maior aporte fiscal à educação, que hoje alcança 4% do PIB, contra os 7% do recomendado pela Unesco.

Em várias partes do trajeto, a manifestação se assemelhou a uma grande festa popular, com centenas de manifestantes dançando ao som de tambores e trombetas. Houve ainda palhaços, pernas de pau e bonecos gigantes com a cara do presidente Sebastián Piñera e de vários outros políticos.

Durante a passeata foram levadas réplicas em cartolina dos tanques de jatos d'água com os quais a polícia dispersa os protestos e um caixão gigante que representava a morte do sistema educacional chileno, cujo modelo foi implementado durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).

Segundo o ministro da Educação, Joaquín Lavín, ele mesmo poderia ter ido à marcha, se ela fosse sobre a educação, "mas hoje temos um tema muito mais ideológico", disse o funcionário.

O Chile registra 3,5 milhões de estudantes do primário ao ensino médio e um milhão na educação superior.

O conflito se arrasta por mais de três semanas, com mais de 200 colégios e 30 universidades ocupadas pelos alunos.

Fonte: AFP

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