segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O PARÁ DIZ NÃO À DIVISÃO

A rejeição à criação de mais dois Estados no território do Pará já é definitiva. A apuração se encerrou por volta de 1h40 (horário de Brasília) na madrugada desta segunda-feira, e o "não" se consagrou vencedor no plebiscito que consultou a população paraense sobre a criação dos Estados de Carajás (sul e sudeste do atual Estado) e Tapajós (a oeste).

Na votação, os eleitores tiveram que opinar em relação à criação de cada Estado, em separado. Caso a criação dos dois Estados se concretizasse, o Pará remanescente ficaria com 17 por cento do território atual e 64 por cento da população.

De acordo com os resultados, 66,6 por cento dos eleitores se posicionaram contra a criação de Carajás, e 33,40 por cento a favor. Com relação a Tapajós, a rejeição foi de 66,08 por cento dos votos, com 33,92 por cento a favor.

O total de eleitores que deixou de comparecer à votação foi de 25,71 por cento dos cerca de 4,8 milhões de paraenses aptos a votar, ou seja, mais de 1,2 milhão de pessoas, ou um quarto dos eleitores.

Como em uma eleição normal, o voto no plebiscito era obrigatório para os eleitores alfabetizados, maiores de 18 anos e menores de 70 anos, e facultativo para aqueles de 16 a 18 anos, maiores de 70 anos e analfabetos.

Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os eleitores que não votaram terão 60 dias após o dia 11 de dezembro para apresentar sua justificativa à Justiça Eleitoral.

SEM SURPRESA

O resultado já era esperado por conta da divulgação, na última sexta-feira, da terceira pesquisa feita pelo Instituto Datafolha. Nela, o índice de rejeição ao desmembramento do Pará em três Estados era alto: 65 por cento dos paraenses eram contrários à criação de Carajás e 64 por cento eram contra Tapajós.

Ainda assim, em Marabá, onde predominava a campanha do "sim", a sensação durante a votação era de que cada eleitor estava fazendo sua parte, apesar das pesquisas. "Temos que puxar a sardinha para o nosso lado", afirmou Adinar Paixão Pereira, de 70 anos, referindo-se à grande vantagem do "não" na capital, Belém.

De acordo com estimativa do Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará (Idesp), a população da área deixada para o Pará remanescente seria de 4,9 milhões de habitantes, enquanto que Carajás e Tapajós, juntos, teriam 2,8 milhões.

Para a eleitora Joice Lima Campos o plebiscito foi um momento importante.

"Estamos tendo a oportunidade de decidir, diferente de quando decidem e temos que acatar", disse ela logo após votar. "Seria melhor se todas as decisões tomadas para o povo fossem perguntadas a ele."

Na pesquisa do Datafolha divulgada no dia 25 de novembro, com mais detalhes do que a última, mostrava que o maior índice de rejeição estava no que seria o Pará remanescente, onde apenas 9 por cento da população apoiava a criação de Carajás e 8 por cento a do Tapajós. Já nas regiões que poderiam ser criadas, o anseio separatista ultrapassava, separadamente, os 70 por cento.

PIB

Carajás, onde está localizada a maior mina de ferro do mundo, ficaria com 24 por cento da área do atual Estado, e 21 por cento da população. Tapajós teria 59 por cento do território e 15 por cento da população.

Ainda segundo o Idesp, o PIB continuaria concentrado no Pará, com 56 por cento. Carajás teria 33 por cento do PIB e Tapajós, 11 por cento.

A região de Carajás, no entanto, é considerada a com maior potencial econômico, por ser ali que a Vale concentra seus projetos de mineração. O próximo grande projeto a ser implantado, a Aços Laminados do Pará (Alpa), terá como sede justamente Marabá, que seria a provável capital de Carajás.

Para o deputado Zenaldo Coutinho (PSDB), que participou do movimento contrário à divisão, a motivação do "sim" estava longe de querer beneficiar a população. "A primeira motivação é a política, de lideranças, e há uma motivação econômica de uns poucos grupos empresariais", afirmou ele na semana antes da votação.

O professor Fernando Michelotti, vice-coordenador do campus I da Universidade Federal do Pará (UFPA), em Marabá, já acreditava que o índice de abstenção no plebiscito poderia ser alto. "As pessoas não se sentem motivadas, por entenderem que a disputa é entre quem vai ficar com as migalhas, com o poder", afirmou.

A poucos dias da eleição, o advogado José Batista, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) também partilhava da mesma opinião a respeito das abstenções, o que, para ele reflete um "sentimento de descontentamento da sociedade com quem está conduzindo a atual proposta de divisão".

Fonte: Reuters

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