quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

ARGENTINA DENUNCIARÁ A INGLATERRA NA ONU

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, subiu o tom contra os britânicos nesta terça-feira e anunciou que fará uma reclamação formal na ONU contra a “militarização” do Reino Unido no Atlântico Sul, onde estão as Ilhas Malvinas (Falklands, para os ingleses).

Cristina Kirchner, da Argentina. Reuters
Cristina protestou contra a decisão do primeiro-ministro britânico, David Cameron, de enviar um navio de guerra ao arquipélago.

A troca de farpas ocorre a pouco menos de dois meses da data que marca os trinta anos do início da guerra pela soberania do arquipélago, em abril de 1982.

“Orientei nosso ministro das Relações Exteriores (Hector Timerman) a apresentar uma reclamação formal no Conselho de Segurança das Nações Unidas contra essa militarização do Atlântico Sul. Vamos fazer também um protesto diante da Assembléia da ONU”, afirmou, diante das câmeras de televisão.

Falando a uma plateia de veteranos de guerra, membros do governo, sindicalistas e até opositores – que há anos não recebiam um convite presidencial para a Casa Rosada – Cristina reprovou, ainda, a ida do príncipe William às ilhas.

William desembarcou na base aérea Mount Pleasant, na semana passada, para treinamentos militares que deverão durar seis semanas.

“Estão militarizando a região. Não podemos tolerar o envio de um imenso (navio) ‘destruidor’ (HMS Dauntless) acompanhado do príncipe (William), a quem esperavamos ver com outra roupa (civil), que não a militar”, disse.

Na semana passada, o Ministério de Defesa britânico informou que o deslocamento do navio era parte da “rotina”, argumentando que a embarcação substituiria uma mais antiga que realiza o patrulhamento das ilhas.
Causa ‘latino-americana’

Cristina Kirchner declarou que o pedido de soberania das Malvinas já não é mais uma causa somente da Argentina.

“As Malvinas deixaram de ser causa argentina para ser causa da América do Sul, da América Latina, uma causa global”, afirmou.

Cristina fez referência indireta à decisão dos países do Mercosul, inclusive o Brasil, de proibir o atracamento de navios com bandeira das Malvinas em seus portos.

A decisão do Mercosul acabou desatando o atual capítulo da crise em torno das ilhas, com os protestos feitos por Cameron em Londres, que chamou os argentinos de “colonialistas” por tentarem “impor” a nacionalidade argentina aos moradores das Malvinas, que preferem continuar sendo britânicos.

Cristina disse, no entanto, que a Argentina continuará insistindo na discussão, por meio da diplomacia.

“Colonialismo”

Cristina voltou a acusar o Reino Unido de “colonialismo”, de “depredar recursos naturais” (com a exploração petrolífera).

O arquipélago, com cerca de 3 mil habitantes cujo idioma é o inglês, foi ocupado pelos britânicos em 1833.

Em 1982, no auge da ditadura, a Argentina enviou tropas para as Malvinas, desatando uma guerra vencida em poucas semanas pelos britânicos. O conflito contribuiu para a derrocada do regime militar no país vizinho.

Após o restabelecimento de relações entre os dois países, no fim dos anos 1980, as Malvinas voltaram para a pauta de reivindicação do ex-presidente Néstor Kirchner, marido de Cristina, morto em 2010.

Cristina também convocou todas as lideranças políticas do país a ir até a ONU, reclamar a soberania das Malvinas.

“No dia 14 de junho estaremos no Comitê de Descolonização das Nações Unidas e vamos convidar, para que nos acompanhem, todos os partidos políticos da Argentina, porque é uma reclamação de toda a Argentina e da América Latina. Peço ao primeiro ministro inglês (David Cameron) que dê uma oportunidade a paz e não a guerra”, destacou. É neste comitê que a Argentina já vem reclamando a soberania das ilhas.

Especialistas argentinos recordam que a ONU sugeriu negociações entre os dois países em 1965. O Reino Unido, no entanto, nunca aceitou negociar.

As palavras da presidente foram acompanhadas por gritos de apoio dos jovens da plateia que diziam: “As Malvinas são argentinas” e “Cristina, Cristina num só coração”. As manifestações de apoio ocorreram também em frente à Casa Rosada, onde ex-combatentes erguiam bandeiras e cartazes.

Fonte: BBC Brasil

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