sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

EGÍPCIOS COMEMORAM UMA SEMANA SEM MUBARAK

Milhões de pessoas foram às ruas para celebrar o novo Egito nesta sexta-feira, num lembrete aos governantes militares para que cumpram a promessa de organizar uma transição rápida para um governo civil depois que o poder popular derrubou o autocrata Hosni Mubarak em apenas 18 dias.

Em um dia emocionante que entrará para a história do Egito moderno e foi uma homenagem às 365 pessoas mortas durante a revolta popular, muitos disseram que cobrarão dos militares a promessa de realizar eleições dentro de seis meses.

"Esta é uma séria mensagem aos militares", disse Mohamed el-Said, de 28 anos, que viajou de Port Said para o Cairo e apontava para o mar colorido de pessoas de todos os tipos em volta dele que participavam das manifestações para comemorar a queda de Mubarak há uma semana.

"Depois de hoje, ficará mais do que óbvio para eles que, se não protegerem a revolução e não responderem às demandas do povo, na próxima vez que as pessoas forem à Tahrir não será para comemorar a vitória, mas elas trarão consigo seus cobertores como antes", disse ele à Reuters na Praça Tahrir (da Libertação).

O xeique Yousef al-Qaradawi, um influente pastor egípcio radicado no Catar, disse aos fieis da praça Tahrir que o medo desapareceu dos egípcios, que derrubaram um faraó moderno por meio da fé e triunfaram sobre o sectarismo.

O surgimento dele e a emergência da Irmandade Muçulmana demonstram uma nova aceitação no Egito atual dos movimentos islâmicos, que já foram proibidos no país. Apesar disso, os egípcios dizem que as vozes religiosas são apenas algumas das várias que agora são ouvidas.

A revolução no Egito, país aliado dos EUA que assinou o primeiro tratado de paz árabe com Israel, causou impacto na região. Ocorreram protestos na Líbia, no Iêmen, em Barein, no Irã e no Iraque, que seguiram o caminho de Egito e Tunísia, que derrubaram seus líderes.

"Peço que o Exército egípcio nos liberte do governo que Mubarak formou", disse Qaradawi durante as orações do meio-dia na Praça Tahrir, sendo aplaudido com entusiasmo pela multidão.

O gabinete atual é em boa parte o mesmo indicado por Mubarak, de 82 anos, pouco antes de sua renúncia. Uma reforma é esperada para os próximos dias.

MUDANÇA NO GOVERNO

Autoridades de segurança afirmaram que o primeiro-ministro Ahmed Shafiq anunciará o nome dos ministros que formarão o governo de emergência na semana que vem e esperam que a reforma no alto escalão ajude a acalmar os manifestantes e os trabalhadores em greve.

A vida no Egito ainda está longe do ritmo normal uma semana após a saída de Mubarak. Há tanques nas ruas, os bancos e as escolas seguem fechados, trabalhadores em greve e novos protestos antigoverno.

Havia tanques e veículos blindados nas entradas da praça, lotada com os manifestantes, que se curvavam simultaneamente nas orações ao lado de policiais militares e de outros soldados guardando a área.

Os soldados entregavam bandeiras do país, enquanto uma banda militar tocava "Egito, meu amor" e os manifestantes tiravam fotos em família sorrindo ao lado dos tanques e dos militares. Nas margens do Rio Nilo, que corta o Cairo, as pessoas dançavam e tocavam música.

Cerca de 5 mil pessoas se reuniram pacificamente em outra parte do Cairo, chamada Mohandisseen, cantando slogans de agradecimento a Mubarak e pedindo desculpas pela forma com a qual ele foi deposto, dizendo apoiar a revolução, mas se opor ao tratamento concedido a Mubarak.

"O povo quer homenagear o presidente", cantavam, vestidos de preto em sinal de pesar por Mubarak, que se encontra no resort de Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho. As faixas da manifestação diziam: "Sim à mudança, não à humilhação".

"PROTEGER A REVOLUÇÃO"

A Irmandade Muçulmana, que diz estar comprometida com a democracia, é considerado o único bloco verdadeiramente organizado no Egito e acredita que poderá obter até 30 por cento dos votos numa eleição. A Irmandade também advertiu sobre a necessidade de se proteger as conquistas.

"Nós também exortamos ao nobre povo...que proteja a revolução e suas demandas legítimas, e não dê chance para que oportunistas se aproveitem dela e de suas conquistas que, com a permissão de Deus, começaram a dar frutos," disse o líder da Irmandade Mohamed Badie, diante da marcha.

"Este é um Egito que não pode ser decepcionado," disse Badie em sua mensagem de sexta-feira aos seguidores do site da Irmandade.

A agências de notícias estatal do Egito, que antes da queda de Mubarak praticamente ignorava os protestos, informou que na sexta-feira mais de 2 milhões de pessoas estavam na Praça Tahrir.

A manifestação popular desta sexta só é comparável àquela ocorrida após a morte do presidente Gamal Abdel Nasser, em 1970, quando a população saiu às ruas do Cairo e de outras cidades egípcias.

Fonte: Reuters

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