sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

SOLDADOS FEREM AO MENOS 50 NO BAHREIN

Soldados abriram fogo contra milhares de manifestantes que desafiaram a proibição do governo e se aglomeraram na praça Pérola, no centro de Manama, nesta sexta-feira, ferindo ao menos 50 pessoas. De acordo com funcionários do hospital Salmaniya, vários dos pacientes atendidos apresentavam ferimentos de armas de fogo.

"Isto é uma guerra", disse o médico Bassem Deif, cirurgião que examinou várias vítimas que chegaram ao local.

O novo incidente acontece um dia depois de a polícia ter retirado à força um acampamento de protesto na capital. Anteriormente, a rede de TV americana havia informado que ao menos quatro pessoas teriam morrido no centro de Manama quando manifestantes entraram em confronto com membros das forças de segurança. Com isso, o número de mortos subiria para ao menos oito.

Manifestantes descreveram as cenas no local como "caóticas", com nuvens de gás lacrimogêneo e balas vindo de várias direções, e pessoas feridas deitadas no chão sobre poças de sangue. Alguns disseram que os tiros partiram de helicópteros ou de franco-atiradores.

"As pessoas começaram a correr em todas as direções, enquanto balas voavam", disse Ali al Haji, 27, que estava presente no local. "Vi pessoas sendo atingidas nas pernas, peito, e um homem com a cabeça sangrando".

"Meus olhos foram atingidos por gás, havia tiros e muito pânico", descreveu Mohammed Abdullah, 37, que também fazia parte dos protestos.


"Nós achamos que foi o Exército", disse o parlamentar Sayed Hadi, do Wefaq, o principal partido xiita, que renunciou ao Parlamento ontem. Outro integrante do Wefaq, Jalal Firooz, disse que os manifestantes estavam nas ruas em protesto contra a morte de um deles nas ruas ontem, quando a polícia lançou gás lacrimogêneo.

Depois, os manifestantes rumaram para a praça Pérola, que estava tomada por tropas do Exército após a operação policial. Os soldados dispararam, segundo ele.

"Há muitas vítimas, algumas em estado crítico", acrescentou Firooz.

A polícia ainda não comentou o caso.

Mais tarde, soldados em tanques e veículos blindados tomaram controle da praça, a qual os manifestantes xiitas esperavam usar como uma base similar à praça Tahrir, no Cairo, que foi o epicentro dos protestos que derrubaram o ditador do Egito Hosni Mubarak em 11 de fevereiro.

A rede de TV libanesa Al Manar citou um médico do hospital Salmaniya, em Manama, dizendo que 25 feridos haviam dado entrada, dois deles com ferimentos graves. Testemunhas afirmaram que cerca de 20 carros da polícia foram para a praça, e que o tiroteio ainda estava acontecendo.

"Este é um protesto pacífico", disse o médico, Mahmoud Abbas, à rede Al Manar. "Como é possível que os manifestantes sejam confrontados com balas? O que ocorre é um desastre humanitário. Não podemos aceitar isso".

FUNERAL

Milhares de pessoas que foram às ruas do Bahrein para o funeral dos mortos durante uma operação de forças de segurança contra a praça que manifestantes pró-reformas estavam acampados pediram, pela primeira vez desde o início da onda de protestos no país, o fim da dinastia sunita que governa o país há mais de 40 anos.


Segundo o jornal britânico "Guardian", a reação contra o rei Hamad bin Issa al Khalifa e seu círculo mais próximo reflete a escalada nas reivindicações iniciais feitas pelos manifestantes, para que a monarquia sunita que comanda o país afrouxe o controle, incluindo não indicar mais pessoas para os cargos governamentais mais altos e abrir mais oportunidades para a população xiita, que é maioria no país e há muito reclama de ser excluída do processo de tomada de decisões.

Os xiitas foram 70% da população do Bahrein, mas o país é governado pela dinastia sunita Khalifa.

Em uma pequena demonstração pró-regime em Manama, dezenas de carros que levavam a bandeira vermelha e branca do Bahrein foram em carreata até a mesquita Fateh, a maior da capital.

Uma das bandeiras levava o nome do rei bareinita. Diversos carros da polícia estavam estacionados do lado de fora da mesquita.

EUA

Nesta quinta-feira, quarto dia de protestos, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu que o governo do Bahrein não utilize a violência para conter as manifestações e reiterou que Washington se opõe à repressão violenta por parte das forças de segurança.

Obama "considera que devemos nos opor ao uso da violência pelo governo do Bahrein", afirmou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, e completou que o presidente americano rejeita qualquer tipo de repressão contra manifestações pacíficas na região.

Mais cedo a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, ligou para o ministro de Relações Exteriores do Bahrein para registrar a "profunda preocupação" com os últimos acontecimentos no país.

Segundo o Departamento de Estado americano, Hillary frisou ainda ao ministro bareinita Sheij Jaled bin Ahmad al Jalifa sobre a importância dos "esforços com vistas para reformas políticas e econômicas, para dar uma resposta aos cidadãos do país".

O Pentágono também fez um apelo por calma no país. "O Bahrein é um parceiro importante e o departamento está acompanhando de perto os acontecimentos", disse o porta-voz do Pentágono, Dave Lapan. "Pedimos que todas as partes tenham moderação e evitem a violência", acrescentou.

A quinta frota naval americana, que projeta o poderio militar dos EUA pelo Oriente Médio e Ásia central --incluindo Iraque e Afeganistão--, fica baseada pelo de Manama.

Fonte: Folha

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