segunda-feira, 9 de maio de 2011

SÃO PAULO LIDERA CASOS DE BULLYING NO PAÍS

Quase metade dos estudantes do Sudeste do País (47%) já viu algum colega sofrer bullying, definido como uma agressão feita de forma sistemática, praticada pelo menos três vezes contra a mesma pessoa num mesmo ano. Esse índice, o maior do País, é o dobro em relação à taxa do Norte, onde o número cai para 23,7%.

A região Sudeste também apresenta a maior taxa de alunos que admitem terem sido vítimas de maus-tratos na escola ao menos uma vez na vida: 40%. No Brasil, cerca de 70% dos estudantes dizem já terem presenciado cenas de violência em suas unidades de ensino.

Os números pertencem à pesquisa Bullying escolar no Brasil, publicada no ano passado pela ONG Plan Brasil, com base em dados referentes a 2009. Foram ouvidos 5.168 alunos de escolas públicas e privadas brasileiras, de 10 a 15 anos. Três instituições da capital paulista e uma de São José do Rio Preto, no interior do Estado, compõem o panorama do Sudeste.

As estatísticas mostram que a própria escola, quando focada na competição, é um ambiente que pode propiciar atos de violência e humilhação. O assunto ganhou destaque sobretudo após o episódio de Realengo, interior do Rio de Janeiro, que completou um mês anteontem. Na ocasião, alegando ter sido vítima de bullying no passado, Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, invadiu a escola em que estudou na infância e matou a tiros 12 crianças.

“A escola valoriza a individualidade, a competição e não a solidariedade. Exalta só o aluno bom, o que chega na hora e cumpre as regras”, analisa Luciene Tognetta, coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral (Gepem) da Unicamp.

O praticante de bullying, de acordo com especialistas, tem autoestima elevada, orgulha-se de ser violento e se acha bem-sucedido por agredir um colega para uma plateia que até o aplaude. O alvo, por sua vez, concorda, intimamente, com as humilhações. É o caso de jovens obesos ou portadores de deficiências, por exemplo: como sabem que essas características são malvistas socialmente, acabam intimidados pelas ofensas dos colegas.

“Por isso, têm tanta dificuldade de reagir”, explica Telma Vinha, doutora em Psicologia e professora da Faculdade de Educação da Unicamp. Para Telma, o problema está em considerar apelidos e brigas como comportamentos próprios da idade. “A agressão só é considerada grave contra a autoridade escolar. Entre pares, é tratada como se fosse ‘apenas’ brincadeira”, diz. Ou seja, as escolas “não apregoam o respeito mútuo, igual para todos”.

Exemplo disso é o relato de F.C.G., de 13 anos, de São Bernardo, no ABC. Ele foi expulso do colégio por ofender a diretora, após ser chamado de “marginal” por ela. E admite que já humilhou as meninas da turma, em outras ocasiões, e nunca foi punido.

“Paz não é ausência de conflito, mas conflito bem resolvido”, defende a psicóloga Isabel Leme, da Universidade de São Paulo. “A escola precisa desenvolver o diálogo, com respeito e sem punição”, diz.

Presidente da Fundação Criança, ONG de São Bernardo do Campo que lida diretamente com casos de bullying, Ariel de Castro diz que os professores precisam de ajuda. “Sozinhos, eles não têm condições de fazer mais esse trabalho. As escolas precisam de equipes multidisciplinares para detectar os conflitos e agir preventivamente”, acredita.

Fonte: Jornal da Tarde

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