sexta-feira, 21 de outubro de 2011

OPERAÇÃO DA PF DESMONTA QUADRILHA FAMILIAR DE BICHEIRO NO RIO DE JANEIRO

A operação da Polícia Federal "Black Ops", que desarticulou a união de uma máfia israelense com a contravenção para contrabandear carros e lavar dinheiro, expôs e quebrou a estrutura de um dos mais tradicionais ramos da contravenção do Rio, a família Escafura, cujo patrono é José Caruzzo Escafura, o Piruinha, 83. Foram expedidos 22 mandados de prisão e 11 presos na ação, dia 7.

As investigações demonstram que a organização do jogo atua junta desde 1997 como uma empresa familiar, na qual os funcionários têm laços de sangue e de amizade próxima, seguindo a tradição do jogo do bicho. Uma forma de recompensa aos serviços prestados é a autorização para explorar máquinas caça-níqueis na área da família.

Haylton Escafura, filho de Piruinha e atual comandante de fato da organização que explora as máquinas e o jogo do bicho, está foragido, porém a maioria dos integrantes da cúpula operacional da quadrilha foi presa e está respondendo a processo judicial, após denúncia do Ministério Público Federal. Além do jogo, eles contrabandeavam carros de luxo para usar na lavagem de dinheiro, pelo Espírito Santo.

Os agentes da Polícia Federal destrincharam a organização interna do grupo, que domina o jogo em mais de dez bairros da zona norte do Rio e identificaram as funções e formas de atuação específicas de cada membro. Sete pessoas fazem parte do grupo de figuras-chave que toma decisões e opera os negócios clandestinos do grupo. Todas respondem a processo por contrabando, crime contra a economia popular, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha armada.

Estrutura da quadrilha

Embora José Caruzzo Escafura, o Piruinha, seja o explorador desde os anos 1970 das áreas administradas – que se revertem em lucro para ele –, o octagenário já repassou ao filho Haylton a tarefa de comandar os caça-níqueis e a atuação da quadrilha no dia-a-dia. A Polícia Federal identificou que todas as atividades de exploração de caça-níqueis e demais negócios passam por Haylton, a quem os integrantes do grupo se reportam e são subordinados.

Júlio Cesar Blaso da Costa, o “Julinho”, é sócio de Haylton nas máquinas nas áreas de domínio e arrendamento de Piruinha e atua como contador, ou gerente financeiro. Ao longo do tempo, segundo as investigações da polícia, Julinho conquistou prestígio e o direito de passar a atuar de forma independente dos Escafura na exploração de pontos de jogo. A proximidade com Haylton é tão grande que os dois sócios moram no mesmo prédio, um flat na Barra da Tijuca.

A gerência operacional do bando cabe a Sandro Alberto Borba de Lima, a quem cabe a prospectar de novos negócios e locais de instalação de bingos, além de fazer a contabilidade mais simples, resultado do dinheiro recolhido das máquinas e apostas de jogo. Ele cuida de atividades administrativas, como a manutenção e programação das máquinas, além de pagar fretes e serviços de transporte.

Entrada do hotel na Barra, onde moram os contraventores Haylton Escafura e Julio César, seu braço-direito

Sandro também funciona como uma espécie de “secretário de luxo” e homem de confiança de Haylton, cuidando de tarefas de seu interesse pessoal do chefe, como pagamento de contas. Como demonstração dessa relação de confiança, Sandro – como Julinho – é autorizado a explorar pontos de jogo do bicho e máquinas de cala-níqueis e controla bingos de cartela.

Irmã de Julinho, Ana Carolina Blaso da Costa, a Carol, trabalha com ele na parte operacional da quadrilha, como chefe operacional intermediária, gerenciando encontros e intermediando negócios, ao rádio e ao telefone, coordenando à distância atividades como a escala de funcionários e o conserto de equipamento. É ela que recebe informações sobre a repressão policial ao negócio e as repassa ao restante do grupo, muitas vezes resultando até no reposicionamento das máquinas.

Seu marido e cunhado de Julinho, Marcelo Pereira, o Marcelo “Pikachu”, tem função semelhante, porém mais fica mais no campo: cuida da montagem, programação e distribuição de caça-níqueis, abrindo novos bingos e articulando a consignação de máquinas em bingos irregulares de outros contraventores.

O casal Carol e Marcelo operacionalizou a vinda de técnicos israelenses ao Brasil para revender placas eletrônicas contrabandeadas à quadrilha e adulterar máquinas. O iG revelou que o israelense Yoram El Al, principal parceiro de Haylton no contrabando de carros, foi trazido ao Brasil pelos Escafura inicialmente para adulterar máquinas e lesar o apostador, reduzindo ou impossibilitando suas chances de ganho – crime contra a economia popular. Por sua intensa e relevante participação nas atividades do grupo, a Justiça negou o pedido de revogação da prisão do casal.

Outro personagem de destaque nessa área éMichel Vasconcelos Fernandes, o responsável pelas fraudes eletrônicas nos máquinas de vídeo-poker e caça-níqueis.

Ele atua como preposto de Haylton, pagando seguranças e transporte de dinheiro e sendo, provavelmente, o negociador de propina para policiais. Como Julinho e Sandro, Michel explora máquinas em áreas arrendadas de Piruinha.

O grupo contava ainda com a proteção de ao menos três policiais militares – Angel Silva Martins, o Binho, Anderson Viola Barros eJulio Cesar da Silva Boeta –, que estão presos e foram denunciados pelo Ministério Público Federal.

Fonte: IG

Nenhum comentário:

Postar um comentário