terça-feira, 1 de março de 2011

MINISTÉRIO PÚBLICO PEDE A PRISÃO DO ATROPELADOR DOS CICLISTAS

O bancário Ricardo José Neis, de 47 anos, que atropelou um grupo de ciclistas em Porto Alegre na última sexta, se apresentou nesta segunda-feira à Delegacia de Crimes de Trânsito. Após um depoimento de quase quatro horas, ele falou rapidamente com os jornalistas e alegou estar em pânico e ter acelerado sobre os ciclistas com medo de ser linchado. “Estou tremendamente transtornado. Lamento muito, mas não tive alternativa. Eles fizeram várias agressões. Não eram todos, mas o pessoal que estava mais atrás. Era uma espécie de milícia”, afirmou Neis.
Neis se apresentou à Delegacia de Trânsito pouco antes das 12h acompanhado de dois advogados. Por volta das 17h, foi liberado e responderá o processo em liberdade. Na noite de sexta-feira, Neis atropelou um grupo de pelo menos 100 ciclistas que integram o movimento “Massa Crítica”, que defende o uso da bicicleta. Cerca de 15 pessoas ficaram feridas e oito foram encaminhadas ao Hospital de Pronto Socorro. Todos tiveram alta ainda no sábado. Imagens feitas por um ciclista mostram o momento em que o motorista acelerou, atropelando as pessoas que estavam pela frente.
O bancário disse que tinha medo que ele e seu filho, que o acompanhava no momento, fossem agredidos. “Eu tinha que fazer isso. Não consigo dormir. Eles estavam batendo no carro. Se eu ficasse no local, seria linchado”, disse Neis.
Nesta noite, o Ministério Público (MP) Estadual do Rio Grande do Sul pediu a prisão preventiva de Ricardo Neis. Em entrevista à "Rádio Gaúcha", o promotor Eugênio Amorim considerou que a gravidade do fato não podia esperar o término da investigação policial, previsto para daqui a um mês. Afirmou, ainda, que o que houve foi uma tentativa de homicídio múltiplo com uso de veículo automotor justamente contra pessoas que pregam a paz no trânsito. O plantão do Judiciário não havia se manifestado até as 21 horas.
Ciclistas
Enquanto o motorista prestava depoimento, diversos ciclistas e pedestres que estavam no local compareceram à delegacia. Eles relatam que, no início da marcha, a rua José do Patrocínio foi fechada para a segurança dos ciclistas. Ricardo Neis teria se irritado e acelerado sobre a marcha, atingindo duas bicicletas. Algumas quadras à frente, ele perseguiu o grupo e atropelou os ciclistas por trás, em alta velocidade.
Com quatro pontos na cabeça e o braço esquerdo quebrado em duas partes, Ricardo Ambus contou que houve uma discussão com o motorista no início da marcha do Massa Crítica, mas, na sua opinião, isso não justifica tal reação. "Até hoje vejo o vídeo e fico emocionado. Para mim, ele é um assassino", declarou.
Melissa Webster também prestou depoimento. Na sexta-feira, ela estava acompanhada da mãe, Sheila Ramos, que pela segunda vez participava da manifestação. Sheila foi arremessada sobre o automóvel. "A imagem da minha mãe voando sobre o carro não me sai da cabeça. Foi a primeira vez que vi um milagre na minha vida", se emociona.
O entregador Marcos Rodrigues, que usa a bicicleta no seu trabalho, foi um dos mais atingidos. Ele bateu a cabeça e chegou a ficar inconsciente. “Ele usou o carro para ameaçar os ciclistas. Não tem nenhuma explicação. Foi um ato hediondo e esperamos que a justiça seja feita”, afirmou.
O motorista esteve na delegacia acompanhado dos advogados Luís Fernando Coimbra Albino e Jair Junco. Eles defendem a tese de que seu cliente estava em pânico e quis proteger a vida do filho. “Ele não poderia ter uma velocidade mais reduzida porque estava cercado. Ele buscou minimizar a situação, tanto que houve lesões corporais e danos materiais, mas nenhuma vítima fatal. Ele disse que estava transtornado, em pânico”, declarou Albino.
O advogado diz que foi procurado por uma amiga em comum para defender o motorista, mas que deve deixar o processo já que é diretor administrativo e financeiro da Carris, a empresa de ônibus da prefeitura de Porto Alegre.
O delegado Gilberto Montenegro não concedeu entrevistas. No domingo, ele sugeriu que houve excesso das duas partes. "Houve uma ação e uma reação. O grupo deveria ter comunicado a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação) e a Brigada Militar (BM, a Polícia Militar gaúcha) sobre o passeio. Um para coordenar o trânsito e permitir o amplo direito de ir e vir, o outro para segurança", disse.
Para Marcos Rodrigues, um dos ciclistas que foi atingido, a tese é infeliz. “A EPTC não vai me escoltar quando eu saio para trabalhar de bicicleta. Além disso, sabe que o Massa Crítica se reúne todo o mês. É uma declaração infeliz”, criticou.
Os integrantes do Massa Crítica estão convocando um protesto nesta terça, às 19h, no Largo Zumbi dos Palmares, onde tradicionalmente o grupo se concentra. Na quinta-feira, eles se reunirão com o advogado Pablo Weiss, também ciclista, que está representando as vítimas. “Nosso principal objetivo agora é comprovar que foi uma tentativa de homicídio. Depois, iremos tomar uma decisão em conjunto sobre que tipo de medidas judiciais serão tomadas”, explicou.
Fonte: IG

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